domingo, 9 de dezembro de 2012

Sinfonia em Novembro - MQ

E a noite encerrou num abraço com a Lua
Mais nua que uma folha no Outono
Tão fria como o Inverno a Leste
Distante como aquela prisão em Porth Arthur
Tão vazia como uma garrafa no final do jantar
Errante como o quixotesco moinho de vento

Chegou a madrugada montada no seu puro sangue
A galope, como se o mundo terminasse amanhã
Parou, estancou como uma hemorragia de vinho
Olhou-me nos olhos fixamente como se me achasse culpado
Fitou-me de fio a pavio mas nem uma palavra proferiu
Voltou-me as costas e partiu como chegou, perto do horizonte

Numa pressa repentina fiquei só, simplesmente singular
Sem a noite ou a madrugada ou um copo para me agarrar
Ainda acendi um cigarro na esperança de companhia
Fui caminhando na estrada da nossa rua
Sem destino certo, pela estrada fora como o livro do Kerouac
Escrevendo na corrente, com os sentidos despertos

Andei, Andei, comigo próprio dialoguei
Perdi-me numa ruela qualquer, voltei atrás e encontrei o caminho
Nunca me cansei, sem norte, nunca fiquei saciado
Procurei o rio, procurei-o como quem tem sede
Encontrei-o sozinho, de olhos bem abertos

Por entre as nuvens de Novembro encontrei o nascer do Sol
Senti o ridículo do lugar comum
Como se fosse um poema de livro de bolso
Sorri e acendei um cigarro meio húmido da escuridão
Sentei-me no porão, tremendo como uma mulher em ebulição

Enquanto soprava e expirava o fumo para o futuro levantei a cabeça,
O dia queria nascer sob um temporal cínico que se avizinhava
Os raios iam abrindo as asas como verdades por revelar
Explodiam no espaço e no tempo como memórias de amores passados
Tímido este amanhecer, pensei enquanto sorria

Tímido mas real, real como a dor e como o amor
Escuro e frágil como um recém-nascido mesmo antes de chorar
Senti-me bem, respirei fundo, arrepiei-me com esta esperança
Mais um dia após o de ontem, a Terra continuou a girar
Procurei o calor, voltei as costas ao sol e caminhei

Para casa...


Sinfonia em Novembro by MQ

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