quarta-feira, 17 de abril de 2013

Uma noite de Verão (ou talvez Inverno) - MQ

Foi-se o orgulho em forma de desenho, vestido de poema
Perdeu-se a liberdade, essa louca mentirosa que até já mete pena
Desistiu o dia que demorou a chegar, rasgado e amordaçado da sua essência
Fugiu e não valeu a pena o tempo, nem a vergonha, muito menos a paciência
 
Farto de escrever sobre as portas que estavam fechadas o poeta chorou
Louco e desesperado correu sem destino, o futuro que para trás ficou
Sentiu o fim nas veias, no peito manchado de erros desertos de certeza
De joelhos rezou por um novo principio, por algo auspicioso banhado de beleza
 
Foi-se o abstrato apaixonado pelos fantasmas embriagados de razão
Perdeu-se a dignidade, cedeu sem ter vontade, ruiu sem ter tesão
Desistiu de ser nobre, essa mentira coroada de espinhos
Fugiu pelas ruas à procura do fim, sem horizonte, por infinitos caminhos
 
Aquela melodia do vazio entranhou-se no mais fundo profundo
Nada mais existia a não ser o som e o ruído infernal do abismo do mundo
Acordou sem sentidos e aos poucos e poucos recuperou a consciência
Foi tudo um sonho mau ou bom, não sabia ajuizar, talvez seja demência
 
Da posição fetal passou a estar sentado, numa rapidez sobre-humana
Custava-lhe raciocinar, os vapores do sonho, a ansiedade insana
Levantou-se devagar sobre os pés, o cérebro e as pernas em estado dormente
Procurou a luz, finalmente alguma cor real, voltar ao estado inocente
 
Aqueles primeiros passos simples mas incertos, desesperadamente errantes
Com a luminosidade artificial tudo ficou pior, estupidamente sufocantes
De novo a escuridão, por favor, urgente como um copo cheio
Tentar adormecer, em esforço, a rezar baixinho, um sonho que ficou a meio
 
 
Uma noite de Verão (ou talvez Inverno) by MQ

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